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O terceiro episódio de Utopia, “Filhos da Terça-feira”, falhou em entregar a dramaticidade que se poderia esperar após os eventos do episódio 02, “Só Um Fã”, mas trouxe novas peças para o quebra-cabeças da Conspiração envolvendo a epidemia que vem dizimando crianças.
Se antes havia uma suspeita de que o Dr. Kevin Christie (John Cusack) estivesse por trás dela, agora temos certeza, já que ele comanda as ações de Arby (Christopher Denham), o assassino que desde o início vem eliminando toda e qualquer pessoa que tenha tido contato com o manuscrito de Utopia, além de tentar localizar Jéssica Hyde, utilizando métodos como tortura.
O que ainda não sabemos é o objetivo por trás das ações do Dr. Christie, embora ele tenha mostrado interesse no trabalho do Dr. Michael Stearns (Rainn Wilson), que alegou possuir a cura para a gripe. Sua insistência em pular testes e produzir o quanto antes a vacina mostra que mais do que a própria doença, sua grande cartada está na vacinação geral da população. Estaríamos diante de uma vacina que cria uma doença ainda mais letal do que aquela que possivelmente curaria?
Não é por acaso que o show alerta no início de cada episódio que se trata de uma obra ficcional, sem qualquer ligação com a atual pandemia que atinge o planeta; ela é um prato cheio para adeptos de teorias conspiratórias, e do jeito que andam as coisas, pessoas podem levar sua trama a sério.
Normalmente, a FDA, órgão responsável por aprovar remédios e vacinas, insistiria em testes demorados, mas, a nova gripe tem duas características que podem acelerar o processo, primeiro, ela ataca crianças, segundo, o tempo entre a pessoa ser infectada e morrer, é extremamente rápido e sem sobreviventes.
A não muito inteligente insistência de Stearns em conseguir entrar dentro da área restrita onde estão as crianças infectadas por conta própria, é inesperadamente recompensada, e finalmente obtém autorização para faze-lo. Ele leva consigo Dale Warwick (Tim Hooper), médico que ele conheceu na multidão e cuja filha, Charlotte (Hadley Robinson), encontra-se entre as atingidas pela gripe.
Evidente que alguém o autorizou, muito provavelmente o Dr. Christie, maior interessado em seu trabalho, mas sem que Stearns vá longe demais nas pesquisas, o que poderia arruinar o seu plano de utilizar a vacina.
E por falar em planos, a equipe de Christie, encabeçada pelo seu filho, Thomas (Cory Michael Smith), elabora um para capturar Grant (Javon Walton), o garoto que está com Utopia, mas esse plano envolve matar mais crianças inocentes. Seja lá qual for o objetivo deles, está mais do que evidente que eles matarão qualquer um que se torne ou possivelmente venha a se tornar um obstáculo, ainda que mínimo, para seus planos.
Cara, interpretada por Fiona Dourif, membro da equipe, questiona a morte de mais crianças, e se não é possível encontrar outro plano. De certa forma é estranho que, depois de aceitar a morte de tantos jovens pelo vírus, agora ela tenha uma crise de consciência e decida traçar um limite, crise essa que irá lhe custar muito caro, como veremos no final do episódio.
Jéssica Hyde conhece Grant, o menino que estava com Utopia, e eles se estranham no começo; normalmente poderíamos ficar tranquilos já que o roteiro não permitiria que a “heroína” da série matasse uma criança inocente, mas, convenhamos, Jéssica não é uma heroína típica e já matou por bem menos do que o manuscrito de Utopia. Apesar da tensão gerada, ambos acabam se acertando, o grupo tem acesso à história em quadrinhos e localizam, escondido em suas páginas, um número de telefone que leva até a agente Katherine Milner (Sonja Sonn).
Ian (Dan Byrd) e Becky (Ashleigh LaThrop) são enviados por Jéssica para se encontrarem com a gente Milner, que revela detalhes sobre uma corrida armamentista envolvendo guerra biológica, na qual os Estados Unidos ampliou sua participação após o 11 de setembro. Saem de cena as ogivas nucleares, entram os vírus, mas como sempre, algo deu errado, o governo perdeu o controle das coisas, um bando de cientistas deu no pé levando segredos terríveis e deste grupo, emergiu o Sr. Coelho, cuja identidade ainda desconhecemos, mas que, ao que tudo indica, é o grande vilão de Utopia.
A história do Sr. Coelho é difícil de se comprar, a ideia de que, após ser capturado na China, onde matou centenas de pessoas, seus captores, sabendo de sua periculosidade, o soltariam apenas para um joguinho de “caça ao coelho” soa absurda demais, hollywoodiana demais.
Acho que é bem possível, após 4 episódios, identificarmos que, para acreditarmos na gigantesca teoria da conspiração proposta em Utopia, será necessário fazer concessões, aceitar certas coincidências e forçadas de barra, ou isso, ou a suspenção de descrença corre o risco de desmoronar, e com ela toda a diversão
Por último, o massacre de Cara e de seus familiares por Arby, foi chocante, mas, de certa forma, previsível; a diferença importante aqui foi a sua reação após matar uma criança, um grito desesperado que destoa completamente da calma inabalável que ele sempre demonstrou, e fazendo dele mais um elemento imprevisível na história.
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Fernando Fontana é escritor e adulto amador, autor de “Deus, o diabo e os super-heróis no País da Corrupção” e da Graphic Novel “O Triste Destino da Namorada do Ultra Homem”, é criador deste site e colaborador do Canal Metalinguagem, onde escreve sobre filmes e quadrinhos antigos.